Inclusão de neurodivergentes nas empresas ainda é um desafio, segundo pesquisa
Pesquisa realizada com 12 mil profissionais e estudantes traz dados que apontam que mais da metade dos profissionais nunca trabalhou com neurodivergentes
A inclusão de neurodivergentes no ambiente corporativo ainda é um desafio significativo para muitas empresas. De acordo com uma pesquisa recente conduzida pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú, e com apoio da startup Tismoo.me e do Órbi Conecta, quase metade dos profissionais afirmam nunca ter trabalhado com pessoas neurodivergentes.
Essa realidade destaca as barreiras que ainda existem para integrar plenamente esses indivíduos no mercado de trabalho, apesar dos avanços em diversidade e inclusão nas últimas décadas.
Embora haja progresso, os desafios de adaptação, falta de conhecimento e preconceitos ainda são obstáculos importantes que as organizações precisam enfrentar.
O que é o termo “neurodivergente”?
O termo “neurodivergente” refere-se a indivíduos cujos cérebros funcionam de maneiras que diferem das normas neurológicas típicas.
Isso inclui pessoas com condições como autismo, TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia, entre outras. A neurodivergência não deve ser vista como uma deficiência ou limitação, mas como uma variação natural da diversidade humana.
Embora essas condições possam, em alguns casos, exigir adaptações no ambiente de trabalho, é importante reconhecer que pessoas neurodivergentes possuem talentos e habilidades únicas, muitas vezes se destacando em áreas como resolução de problemas, criatividade e inovação.
No entanto, para que esses profissionais possam mostrar seu potencial, é essencial que as empresas estejam preparadas para oferecer um ambiente inclusivo e acessível.
Resultados da pesquisa
A pesquisa realizada pela Consultoria Maya revelou que cerca de 45% dos profissionais afirmam nunca ter trabalhado com uma pessoa neurodivergente. Esses números são alarmantes, considerando que a neurodivergência não é uma questão rara.
Isso sugere que ainda há um grande caminho a percorrer em termos de conscientização e inclusão no ambiente corporativo.
O estudo também aponta que, entre os profissionais que já tiveram colegas neurodivergentes, muitos relataram dificuldades para lidar com as necessidades específicas desses colaboradores, principalmente devido à falta de preparo das empresas em termos de treinamento e políticas inclusivas.
A ausência de diretrizes claras sobre como lidar com diferentes formas de neurodiversidade pode gerar desconforto tanto para os neurodivergentes quanto para seus colegas de trabalho.
Ainda segundo a pesquisa, poucas empresas possuem programas específicos voltados para a contratação e inclusão de pessoas neurodivergentes, o que contribui para a exclusão desses indivíduos do mercado de trabalho formal.
A falta de diversidade dentro das equipes reflete um problema de inclusão e uma oportunidade perdida de acesso a profissionais com competências diferenciadas.
Dificuldades enfrentadas
As dificuldades enfrentadas pelas pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho são variadas e vão desde barreiras no processo seletivo até a falta de adaptações no ambiente de trabalho. Um dos principais problemas identificados é a inadequação dos processos de contratação, que muitas vezes são padronizados para atender apenas a um perfil neurotípico.
Testes de seleção excessivamente longos ou que exigem interações sociais complexas, por exemplo, podem ser desafiadores para pessoas com autismo ou TDAH.
Além disso, a falta de flexibilidade em entrevistas de emprego, onde candidatos neurodivergentes podem ser mal interpretados devido à dificuldade em se expressar da mesma maneira que neurotípicos, acaba excluindo muitos talentos em potencial logo no início do processo.
No ambiente de trabalho, as dificuldades podem ser ainda mais evidentes. A falta de adaptações simples, como espaços tranquilos para pessoas sensíveis a estímulos ou a flexibilização de horários para atender às necessidades específicas de concentração e produtividade, pode criar barreiras para que neurodivergentes desempenhem suas funções de forma eficaz.
Benefícios para as empresas
Apesar das dificuldades, a inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho pode trazer inúmeros benefícios para as empresas.
Profissionais neurodivergentes muitas vezes possuem habilidades extraordinárias em áreas específicas, como atenção aos detalhes, pensamento analítico, criatividade e resolução de problemas.
Empresas que investem em um ambiente inclusivo conseguem explorar esses talentos de maneira eficiente, ganhando vantagem competitiva no mercado.
Um estudo realizado pela Deloitte aponta que empresas que adotam práticas inclusivas, especialmente voltadas para a neurodivergência, conseguem melhorar sua inovação em até 30%. Isso ocorre porque equipes diversas, compostas por pessoas com diferentes formas de pensar e resolver problemas, tendem a encontrar soluções mais criativas e eficazes.
Criar um ambiente inclusivo para neurodivergentes também pode resultar em maior lealdade dos colaboradores. Quando esses profissionais se sentem acolhidos e valorizados, há uma tendência de maior engajamento e retenção, reduzindo, assim, as taxas de turnover, que geram altos custos para as empresas.
Impacto social da inclusão
A inclusão de neurodivergentes no mercado de trabalho também tem um impacto social significativo. A exclusão dessas pessoas não apenas priva o mercado de talentos valiosos, mas também reforça estigmas e preconceitos que contribuem para a marginalização de um grupo já vulnerável.
Com a inclusão de neurodivergentes, as empresas têm a oportunidade de exercer um papel de transformação social. Isso vai além de simples políticas de diversidade e representa uma mudança real na forma como a sociedade encara as diferenças cognitivas.
A contratação de neurodivergentes é uma forma de combate ao capacitismo, que é o preconceito contra pessoas com deficiência ou necessidades especiais, e de incentivo à construção de um ambiente mais justo e equitativo para todos.
A inclusão pode servir como um catalisador para outras mudanças positivas dentro das empresas. Programas de inclusão podem sensibilizar os colaboradores sobre a importância da empatia, da cooperação e do respeito às diferenças.
Empresas que priorizam a diversidade e inclusão, incluindo a neurodivergência, acabam se posicionando como líderes em responsabilidade social corporativa, o que pode fortalecer suas marcas e atrair novos talentos comprometidos com causas sociais relevantes.
Incluir o neurodivergente no mercado de trabalho não deve ser visto como um simples “favor” ou uma ação puramente altruísta. Trata-se de reconhecer o valor que esses profissionais podem agregar às organizações e à sociedade.
Ao superar os desafios de inclusão, as empresas têm a chance de criar ambientes de trabalho mais inovadores, colaborativos e inclusivos, com ganhos significativos para todos os envolvidos..