Ciência

Como substituir as memórias dolorosas por outras!

Todos nós temos experiências no passado que gostaríamos te nunca ter vivido, relacionamentos ruins, experiências traumáticas, algum tipo de perda. Não importa o quanto tentamos, tais memórias continuam nos assombrando, ocasionalmente sendo reavivadas por gatilhos emocionais, como ansiedade, fobias, ou desordem de stress pós traumático. Mas cientistas estão agora a beira de mudar isso de uma vez por todas, com a descoberta que nossas memórias não são tão permanentes como pensamos.

De fato, os pesquisadores descobriram como deletar, modificar, e até implantar memórias, não apenas em animais, mas em cobaias humanas. E as drogas capazes de reprogramar nosso cérebro a fim de esquecermos as partes ruins já estão no horizonte! Como demonstrado no documentário da PBS Memory Hackers.

Se tudo isso soa ainda como ficção científica, é apenas porque é, filmes como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças e Total Recall, brincaram com essa ideia de alterar memórias. Mas graças aos avanços na tecnologia de escaneamento neural das últimas décadas, nos estamos agora mais próximos do que você imagina de fazer estas tecnologias, ou algo similar, virarem realidade.

Então, como você vê essa ideia de deletar uma memória? Para entender isso, você precisa entender como as memórias vem e são mantidas vivas no nosso cérebro em primeiro lugar.

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No passado, cientistas usavam pensar que as memórias eram armazenadas em um ponto específico, como um gabinete neurológico de arquivos, mas perceberam que cada memória nossa está trancada em conexões por todo cérebro.

Para explicar isso de uma maneira mais simplificada, uma memória é formada quando as proteínas estimulam as células do cérebro crescerem e formarem novas conexões, literalmente religando os circuitos de nossas mentes.

Uma vez que isso acontece, uma memória e armazenada em nossa mente, e para maioria de nós ela vai ficar lá, enquanto nós, ocasionalmente, refletirmos sobre ela ou revisitá-la.

Até aqui tudo simples. Mas o que muita gente não percebe é que aquelas memórias a longo prazo não são estáveis. De fato, toda vez que revisitamos uma memória, ela se torna maleável novamente, e se torna mais forte e viva do que antes.

Este processo é chamado de reconsolidação, e isso explica porque nossas memórias podem algumas vezes mudar sutilmente no passar dos tempos, por exemplo, se você cai de bicicleta, toda vez que lembrar disso e ficar chateado, você está reforçando suas conexões entre aquela memória e emoções como medo e tristeza. Eventualmente apenas um pensamento sobre bicicleta é o suficiente para desencadear o terror. Por outro lado, a maioria de nós tivemos experiências traumáticas que se transformaram em motivo de risos muito tempo depois.

O processo de reconsolidação é tão importante, porque é o ponto onde os cientistas podem caminhar e hackear nossas memórias.

“A pesquisa sugere que as memórias podem ser manipuladas porque elas atuam como se fossem feitas de vidro, existindo em um modo maleável quando criadas, antes de se tornarem sólidas,” Richard Gray explica ao The Telegraph. “Quando a memória é acessada novamente, entretanto, ela se torna maleável novamente então pode ser alterada antes de resetar novamente.”

Numerosos estudos mostraram que bloqueando um elemento químico chamado norepinefrina, que está envolvida na resposta de luta ou fuga e é responsável por desencadear sintomas como palmas das mãos suadas e um coração de corrida, os pesquisadores podem ‘amortecer’ memórias traumáticas, e impedi-las de serem associadas com as emoções negativas.

Por exemplo, no final do ano passado, pesquisadores da Holanda demonstraram que poderiam tirar o medo de aranhas dos aracnofóbicos, usando uma droga chamada propanolol para bloquear a norepinefrina.

Para desvendar isso, a equipe pegou três grupos de aracnofóbicos. A dois destes grupos foi apenas mostrado uma tarântula em um aquário de vidro para ativar sua memória mais terrível de aranhas, e em seguida foi dado o propanolol ou placebo. Ao terceiro grupo foi apenas dado o propanolol sem mostrar a aranha, para eliminar a possibilidade de que a droga era responsável por reduzir o medo.

Depois de alguns meses, foi apresentado aos grupos outra tarântula e a sua resposta ao medo foi medida. Os resultados foram incríveis, enquanto que ao grupo que foi dado o placebo, e aqueles a que foi dado o propanolol sem serem expostos a tarântula não mostraram nenhuma mudança no seu nível de medo, os aracnofóbicos que foram expostos a aranha e receberam a dose da droga foram capazes de tocar a aranha em dias. Em três meses, muitos deles  se sentiram confortáveis em segurar a aranha, e o medo não voltou mesmo após um ano. Isso foi como se o medo deles fosse deletado.

A mesma droga foi testada em 2007 em vitimas de um trauma do passado. Foi dados aos participantes o propanolol e o placebo todos os dias num período de dez dias, e foi solicitado a eles, descreverem as memórias do evento traumático.

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Para aqueles que foi dado a droga, não esqueceram o evento, mas uma semana depois eles eram capazes de recontá-lo com menos stress do que pela primeira vez. Em ratos uma técnica similar foi usada para fazer o rato esquecer um som em particular associado a um choque elétrico, enquanto deixava outras memórias intactas.

Até então, os pesquisadores não tentaram deletar explicitamente uma memória por inteiro de humanos (isso é, ao menos, o que sabemos até agora), devido a implicações éticas, mas as evidências sugerem que isso será possível, dando a quantidade exata de drogas e fazendo exercício de reconsolidação.

Talvez ainda mais preocupante é a investigação sobre como é fácil para os cientistas implantarem falsas memórias em pessoas. Ao manipular o mesmo processo de reconsolidação, a psicóloga Julia Shaw tem mostrado que é possível fazer as pessoas se lembrarem de um crime que nunca cometeram, e até mesmo fornecer detalhes vívidos sobre o evento fictício.

Você pode ver o seu trabalho em ação abaixo, e é bastante assustador:

Com este tipo de alteração de memória já possível, e mais pesquisas sendo realizadas o tempo todo, a verdadeira questão agora é: o que vamos fazer com esse conhecimento?

Como o criador de Memory Hackers, Michael Bicks, disse a Co.Create, em última instância, o objetivo não é eliminar inteiramente as memórias dolorosas das pessoas, como eles tentam fazer no filme Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, mas simplesmente ajustá-las para que sejam menos perturbadoras . Porque não é tanto as memórias, mas são as associações feitas na nossas mente, que causam dor.

Mais importante ainda, a pesquisa significa que os cientistas poderão em breve ser capazes de ajudar a tratar as pessoas com ansiedade, fobias e PTSD.

“Reescrever memórias permite que você atualize-as”, disse Bicks. “Mas o propósito do esquecimento não é apenas para que você possa limpar o disco rígido … A capacidade de esquecer as coisas desagradáveis nos permite criar uma história sobre nós mesmos que podemos conviver.”

Fonte: Science Alert

 

 

Eder Oelinton

Jornalista, amante de tecnologia e curioso por natureza. Busco informações todos os dias para publicar para os leitores evoluírem cada dia mais. Além de muitas postagens sobre varias editorias!

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7 Comentários

  1. Achei interessante e preocupante também. Como Terapeuta Holística, sei que existem técnicas, como Barras de Access, meditações e viagens astrais que fazem uma “limpeza” em traumas e medos; a maioria das pessoas que vem buscar ajuda, precisam se livrar de traumas do passado, de lixos emocionais causados por emoções reprimidas, para assim conseguir se encontrar e seguir sua vida de maneira mais leve; mas daí a medicar as pessoas com uma substância capaz de apagar as memórias ruins, já não sei o que pensar. Acho válido em casos graves, mas é perigoso em mãos erradas (como tudo, claro).

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